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quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Que epifania é epifania

No ímpeto do arremesso, a força e a ira desencadearam sentimentos há muito guardados. A lembrança e evocação de quem se foi e o sentimento acolhedor das memórias da presença da mãe fizeram clamar por paz interior. “Não quero mais nada. Só paz. Quero parar de sentir raiva. Cansei de sentir raiva, e de urrar como um animal enjaulado”.
No pedido, em um canto escuro com os olhos fechados, como em um envólucro, a cabeça pesou e o queixo foi se recostando ao peito, a coluna arredondando e o corpo se envolveu como o de um bebê aninhado no útero. Foram o sufocamento e a angústia de não poder fazer nada para cessar esse sentimento, a epifania pela qual esperava. O útero apertado e o clamor à mãe,ou a qualquer outro que pudesse ajudar foram inúteis. A raiva da impotência ficou toda armazenada e ressurgia a cada vez que o cárcere físico ou comportamental engatilhasse surtos outrora incompreensíveis por causa do dia que queria nascer e não conseguiu.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Que agora eu entendo Vinte e Nove

Na minha infância eu ouvi Xuxa e Menudo, na adolescência, Dominó, Polegar e de repente comecei a gostar da música que minha irmã ouvia. Então ouvi Elis, Cazuza, comecei a prestar atenção às letras e um dia descobri Legião Urbana.
Várias músicas marcaram como aquelas com letras que aprendi na persistência - como esquecer tantas tardes decorando Faroeste Caboclo? Todo fã de Legião tem que saber Faroeste Caboclo! Entre minhas preferidas, Sereníssima, Eduardo e Mônica, Índios e Vinte e Nove. Me lembro que no auge de minha adolescência conturbada e melancólica, a tristeza das letras se aproximava tanto de minha realidade que Vinte e Nove se destacava por ser uma música que gostava mas me parecia distante.
Imaginava um adulto de 29 anos que perdera tudo que conquistou nos anos anteriores. Eu não havia perdido nada. Nos 15 anos em que me protegi do mundo, aquelas perdas não me tocavam tanto quanto o pesar que sentia por Renato Russso. Recordo da tarde quando soubemos da morte dele e como senti falta de novos álbuns...

Hoje, Vinte e Nove é diferente para mim.

“Perdi 20 em 29 amizades
Por conta de uma pedra em minhas mãos”

Hoje, com 30, sei do que Renato falava.

“E 29 anjos me saudaram
E tive 29 amigos outra vez”


Para quem não conhece, a letra na íntegra


Vinte E Nove
Renato Russo

Perdi vinte em vinte e nove amizades
Por conta de uma pedra em minhas mãos
Me embriaguei morrendo vinte e nove vezes
Estou aprendendo a viver sem você
(Já que você não me quer mais)
Passei vinte e nove meses num navio
E vinte e nove dias na prisão
E aos vinte e nove, com o retorno de Saturno
Decidi começar a viver.
Quando você deixou de me amar
Aprendi a perdoar
E a pedir perdão.
(E vinte e nove anjos me saudaram
E tive vinte e nove amigos outra vez