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terça-feira, 27 de abril de 2010

Que a memória tem vida própria

Sempre que chega essa época do ano tenho lembranças incontroláveis no fim do dia, no friozinho que é bom de sentir sem proteção, de uma época sofrida que deixou muita saudade. Era sozinha e morava num lugar pequeno que a muito custo, aliás, pouco, já que o dinheiro era escasso, tentava arrumar com cores e faxinas constantes. Tinha minha TV, minha gata, meus livros e meus CDs que ouvia como nunca mais tive oportunidade de desfrutar tão de bem comigo mesma, sonoramente triste e consciente da estranheza que aquele gosto pela solidão continha. Não era solidão dessas que afundam e isolam. Foram momentos só meus que hoje relembro através da pele quando o vento do outono sopra pela minha janela que insisto em manter aberta e em meus trajes , ainda de verão, que minha mãe sempre criticou: “Põe uma calça, menina! Tá frio!” Gostava de aproveitar de estar só pra escrever. Ah, e como escrevia naqueles dias em que sentia com arrepios os arrebates da ira, do cansaço pelo trabalho e a caminhada voltando pra casa decepcionada com a falta de dinheiro pra abastecer o carro parado na garagem. Foi assim, caminhando pra casa pelas ruas escuras encobertas pelas árvores de Maringá que tomei grandes decisões e planejei encher a casa de amigos quando me cansasse de estar só. E foram várias vezes que limpei o chão sujo, e vários cinzeiros quebrados, e copos que precisei repor, e desculpas com os vizinhos pelo barulho, e muitas manhãs de trabalho sonolento que me fizeram perceber que estar acompanhada era tão bom quanto estar sozinha.

2 comentários:

  1. Saudades, carinho, respeito e admiração eterna por você Rô. Te amo!!

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  2. Engraçado, essa época também me enche de memórias, as boas, as ruins, mas gosto sempre de lembrar das situações em que estive. Gostei bastante do texto, me fez lembrar também as vezes que festei na sua casa com o pessoal. hahaha great times!!


    Beijooo!

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